Thursday, January 24, 2008

Sobre as privatizações

Privatizaram as rodovias federais. Porém não saiu na mídia que, pouco antes, o governo praticamente refez as rodovias para que as concessionárias tivessem pouco trabalho para faturar seu "bom" dinheiro.


Estão privatizando as rodovias estaduais. Porém não saiu na mídia que, pouco antes, o governo praticamente refez as rodovias para que as concessionárias tivessem pouco trabalho para faturar seu "bom" dinheiro. Ontem mesmo passei pela SP-294 (no trecho entre Bauru e Marília) e, pasmém, uma estrada que ficou pelo menos 20 anos caída no esquecimento, está quase que totalmente reformada e duplicada. Você também achou estranho?


Parece que tive um "deja vú"...


Daqui a pouco privatizarão as ruas e avenidas municipais (em São Paulo já existem projetos de privatização das marginais) e então eu te perguntarei: por que você paga IPVA?

Sem parar, mas nem tanto

Tempos atrás passei por um grande perigo na rodovia Castello Branco com o serviço do Sem Parar. O relato completo consta no Best Cars (http://www2.uol.com.br/bestcars/colunas3/b266a.htm) e é interessante que leiam para refletir e cobrar a quem de direito mudanças.

Em resumo, a cancela (que, óbvio, só existe aqui no Brasil para este serviço de pedágio expresso) não se abriu, tive que parar o carro e, logo atrás, vinha um grande caminhão que, por sorte, conseguiu parar antes do choque.

Será que é só eu que vejo a estupidez, o absurdo, de se colocar uma cancela em uma cabine de pedágio automático?

Se não fosse no Brasil, ninguém acreditaria. Mas...

Motos (nas) marginais

Se não fosse no Brasil, ninguém acreditaria. Mas...

Em um tempo não muito distante, o trânsito na capital era caótico. As grandes avenidas eram tomadas de grandes caminhões e ônibus de fretamento. Estes cada vez mais ocupavam o valioso espaço na luta pelo direito de ir e vir. Com isso, os acidentes se tornaram cada vez mais freqüentes entre automóveis e caminhões, muitas vezes fatais, haja visto a brutal diferença de dimensões entre um singelo carro de passeio e um caminhão de seis eixos e aproximadamente 50 vezes a massa de um carro. Dados mais recentes apontavam algo cerca de um acidente com vítima fatal por dia, geralmente por engavetamento ou imperícia do motorista (a pesquisa não aponta qual dos motoristas, se os dos caminhões ou os dos carros - importante frisar).

Assim sendo, mentes brilhantes tiveram a excelente idéia de "cortar o mal pela raíz": proibiram a circulação dos automóveis nestas vias, uma vez que a segurança dos cidadãos era a prioridade e o número de mortes nestas vias era cada vez maior, ficando uma imagem de descaso por parte do governo. Essa era a solução "de ouro" esperada por todos, sendo imediatamente aclamada por todos os motoristas de caminhão. Um veterano motorista de caminhão "truck" deu o seguinte depoimento: "os carros não tinham por onde passar, acho que foi uma ótima medida do governo." Mas... por onde esses carros iriam trafegar? Como esses cidadãos iriam ir e vir? Não, isso não foi previsto na resolução, mas isso não era o importante. O importante, esse sim, era a segurança do cidadão.

Como forma de "compensar" a proibição, o governo teve uma outra brilhante idéia: criou uma faixa exclusiva para os veículos de trabalho. Aqueles que fazem algum tipo de entrega e que circulam no período comercial do dia teriam privilégio na circulação pela cidade. Isso causou uma revolta geral na população. Um motorista rapidamente gritou para a reportagem: "também tenho o direito de chegar rápido na minha casa!".

Por fim, o que, para alguns, era a "solução de ouro", apenas serviu para engrossar o caldo do caos.

Se não fosse no Brasil, ninguém acreditava. Mas...

Se não fosse no Brasil ninguém acreditava. Mas...

Se não fosse no Brasil ninguém acreditava. Mas...

Vinha eu conduzindo minha motocicleta EN 125 Yes na marginal Tietê, pista local, sentido zona Leste, na altura (logo antes) da ponte das Bandeiras, quando me deparo com a cena: uma pick-up Montana na pista à direita, pouco à frente, prestes a passar por algo semelhante a um vazamento de esgoto (ou seria algo derrubado de um caminhão?) em grande quantidade.

Mas já era tarde. Lá vinha aquele monte de "qualquer-coisa-nojenta-que-vocês-puderem-imaginar" na minha direção, em forma de algo "quase-líquido". Foi no capacete, bem na viseira, no peito, nas mãos, no jeans... enfim. Um instante depois me dei conta que quase não conseguia enxergar, porque esse "algo" impregnou na viseira. Graças que não havia carro muito próximo, no que deu tempo de levantar a viseira e sair da pista para verificar o estrago. Fora o fedor desgraçado da meleca, o capacete todo melado, a blusa e o jeans com o cheiro impregnado, "nada" demais.

Mas para que essa história ridícula se tornasse trágica não precisaria de muito mais do que um carro à direita ou à esquerda ou ainda um obstáculo estático à frente.

Se não fosse no Brasil, ninguém acreditava. Mas... é no Brasil.

Ufa...

Ia começar meu blog indagando se eu seria a única pessoa no planeta a ver o mundo de uma forma crítica e (infelizmente) pessimista. Mas descobri dia após dia que ainda existe gente pensante neste lugar. Começo o blog postando um texto que o Tite Simões (www.motonline.com.br) redigiu sobre as coisas esquisitas que nos cercam diariamente.

"Coisas que me irritam

O mundo é cheio de coisas que me irritam profundamente. Até parece que as pessoas vieram ao mundo só pra me irritar. Por exemplo, quer coisa mais irritante do que velha fumando? Pô, a velhinha está quase morrendo de enfisema pulmonar, mas continua fumando, tossindo e catarrando na cara da gente. Outra coisa que me irrita é homem segurando bolsa de mulher em Shopping Center, enquanto a patroa prova roupa. Dá vontade de chegar no cara, arrancar a bolsa da mão dele e botar ordem na casa, do tipo:
– Qualé, mermão, não te deram educação de macho?
Gente que fala errado também irrita muito, porque há muitos anos falar corretamente virou brega nos meios intelectuais brasileiros. A ética do Seo Craysson se espalhou por aí que nem catapora em jardim da infância. Pior ainda quando ouço erros primários saindo de boca de profissionais que têm o poder de difusão. Neste capítulo, merece destaque as transmissões da Fórmula 1. Além do marasmo que a gente percebe em cada domingo de corrida, tenho de ouvir patadas do tipo:
– O piloto foi penalizado com stop and go!
O verbo penalizar significa sentir pena de alguém. Quando o Rogério Ceni perde um pênalti eu fico penalizado, pois dá pena ver a cara de frustração dele. Quando o Felipe Massa perde uma corrida por causa de um regulamento imbecil, eu fico penalizado. Mas quando um piloto queima a largada ou xinga a mãe do outro, ou corre demais na área dos boxes ele é PUNIDO! Ou seja, sofre uma punição e paga a punição com uma parada no box. E antes que um advogado me escreva dizendo que existe a expressão “penalizado”, eu afirmo: sim, da mesma forma que existe a forma “perca” do verbo perder, mas não é recomendável usar expressões como “perca de potência” e nem “o piloto foi penalizado”.
Outro vício de linguagem que está na moda é o insuportável “eu, particularmente”. Os comentaristas da Globo adoram usar este símbolo máximo da hipocrisia, já que pressupõe a existência de vários “eus”. Por exemplo, o “eu coletivo”, que emite uma opinião na frente dos outros e o “eu particular”, que tem uma segunda opinião quando está “num particular”. Esta manifestação de personalidade de planária já contaminou várias pessoas, inclusive os entrevistados. Parece uma pandemia de esquizofrenia psicótica que leva as pessoas a desenvolverem várias personalidades, uma para cada ocasião, como se trocassem de roupas. Todo eu só pode ser particular, caso contrário tornar-se-ia imediatamente “nós”. Aí entra em cena outro vício que me irrita, sobretudo em esportistas: o plural majestático, que nada mais é do que usar “nós” no lugar de “eu”.
Outra pérola da comunicação global é a transferência de sujeito. Você já ouviu a célebre frase do Galvão Bueno:
– Aí você tem de largar com tanque cheio e administrar...
Você quem? Eu? Você, leitor? Ou o piloto?
Uma vez uma amiga me ligou, reclamando:
– Ai, sabe estes dias que você acorda menstruada?
Na hora interrompi e argumentei que jamais tinha passado por esta rica experiência de acordar menstruado. Pelo menos que eu lembre, pois numa encarnação passada eu poderia ter acordado menstruado, com TPM, cólicas e até grávido.
Esta “transferência de sujeito” é mais uma herança do american way of life, já que os americanos transformaram toda comunicação em manuais de auto-ajuda. Não existe mais sujeito em inglês, só “you”. Essa irritante mania já impregnou nossos jornalistas. Chega a ser engraçado ouvir o Galvão narrando:
– Aí você tem de frear no limite na entrada do box.
Eu estou em casa, sentado no sofá, tomando café e nem por sonho vou entrar no box.
Finalmente, a terceira coisa que me irrita profundamente é “jornalista” falando sobre trânsito. Desde que as motos entraram na mídia como as grandes vilãs do trânsito parece que todo jornalista virou especialista no assunto. A rádio CBN, capitaneada por dois dos jornalistas mais preconceituosos que já conheci, Heródoto Barbeiro e Milton Jung, diariamente fazem comentários tão difamatórios com relação às motos e motociclistas que dá vontade de mandar prender ambos!
Especialmente o Milton Jung tem o hábito de conduzir as entrevistas e usar de ironias para desmoralizar os entrevistados quando o assunto é segurança de motociclistas. Não dá chance de o entrevistado defender a teoria, interrompe e ironiza. Pra completar, encerra a entrevista com algum comentário notoriamente preconceituoso sobre o assunto.
Quando fui estudar jornalismo (amarrado e debaixo de porrada), já havia a eterna discussão sobre a validade do diploma. Os “diplomistas” alegavam que a faculdade dava uma base científica para evitar que os futuros jornalistas cometessem erros graves de senso-comum. Por causa desta briga toda fui obrigado a estudar textos de sociologia, antropologia, metodologia científica, pesquisa, análise de dados, estatística e um inferno de matérias. Tudo isso para não sair por aí escrevendo batatadas sem base científica. E, ironia do destino, um dos meus professores foi o Heródoto Barbeiro!
E aprendi que conclusões sem base científica se tornam senso-comum e terminam no preconceito. O preconceito nada mais é do que formar uma idéia pré-concebida sobre um assunto sem a devida análise com base científica.
Pois é isso que pratica o jornalismo da CBN, reforçado por outro “jornalista”, o Gilberto Dimenstein, que se auto-proclamou defensor da cidadania paulistana. Toda vez que Dimenstein se mete a falar sobre segurança de motociclista ele comete as piores manifestações preconceituosas, como se todo motociclista fosse um potencial criminoso, a exemplo da teoria do “homem lambrosiano”.
Já mandei dezenas de cartas ao departamento de jornalismo da CBN, todas respondidas com uma mensagem automática, mas obviamente eles preferem entrevistar pessoas sem bagagem científica para defender os motociclistas. Assim podem ironizá-los e ridicularizá-los sem medo de passar por um debate inteligente.
O resultado é que a administração da cidade de São Paulo manda e desmanda na vida dos motociclistas e a imprensa de modo geral apóia os maiores absurdos porque não tem nenhum especialista capaz de contestar essas leis ridículas, inócuas e, eventualmente, inconstitucionais, como a proibição de rodar de moto com garupa.
Confesso que cansei. Não queria mais escrever sobre o assunto. E pretendo não escrever mais porque já existem entidades que deveriam fazer isso, como Abraciclo, Abram, sindicato dos Motoboys e outras agremiações corporativistas. Eles recebem remuneração para isso. Se não conseguem mudar a atual situação discriminatória dos motociclistas está na hora de rever a função dessas entidades. E essa falta de representatividade me irrita demais!"

Obrigado, Tite, por mostrar que ainda há vida neste "inconsciente coletivo".